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domingo, 5 de dezembro de 2010

Debate - A maioridade penal deve ser reduzida no Brasil?

Um dos assuntos bastante evidenciados no Congresso Nacional tem sido a redução da maioridade penal, que na visão de alguns juristas deverá ser reduzida para 16 anos, fazendo com que o adolescente pague pelos crimes cometidos.

Uma outra corrente é totalmente contrária e defende a chamada internação do menor por mais tempo. Hoje o tempo limite é de 3 anos não importando qual o delito cometido, e o menor em conflito com a lei está pronto para voltar a delinquir na maior tranquilidade do mundo.

Os holofotes da grande imprensa só se voltam para essa questão quanto ocorrem crimes de grande repercussão. Crimes que chocam a sociedade, a exemplo daquele caso ocorrido no Rio de Janeiro, onde uma criança foi arrastada por vários quilômetros amarrada ao cinto de segurança e morreu.

Apreendidos, os delinquentes mirins, de forma cínica disseram que não viram o que aconteceu. Um deles, menor, já cumpriu o seu período de internação e já está solto para fazer novas vítimas.
Assim caminha a impunidade no Brasil. Em nossa capital os menores constantemente assumem delitos que na prática não seriam deles. Porém, como já sabem da frouxidão da legislação, como gente grande, assumem a responsabilidade.

Para muitos criminalistas um jovem de 16 anos deve responder por seus atos e ser penalmente imputável. É simples: se o jovem tem discernimento para escolher seus representantes no parlamento, fica evidente que também terá a capacidade biológica, social e psicológica para responder por seus crimes.

Alguns países como os Estados Unidos e a Grã-Bretanha, consideram a gravidade do crime mais importante do que a idade do autor. Com base nesse princípio a justiça americana pode inclusive aplicar a pena de morte a crianças.

O Estatuto da Criança e do Adolescente foi um avanço, principalmente quando estabelece a escola, a educação, como elementos prioritários. Se nossa Constituição Federal fosse realmente cumprida a situação poderia ser outra. O quadro existente poderia ser diferente.

Uma pesquisa aponta que 96,6% dos jovens envolvidos em crimes não concluiram o ensino fundamental e os fatos estão intimamente ligados a pobreza em que vivem.

É a realidade nua e crua. As políticas públicas voltadas aos jovens devem ser mais incisivas fazendo com que os mesmos vislumbrem um horizonte no futuro.

Caso isso não aconteça o enredo já é conhecido. Assaltos, furtos,homicídios, vendas de drogas, apreensões, internações, passagens pelo presídio, e por fim, quase sempre o caminho sem volta de um dos cemitérios da cidade.

E você o que acha? A maioridade penal deve ser reduzida no Brasil?

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

A notícia - Um gênero textual de cunho jornalístico


Antes de adentrarmos de forma minuciosa no que se refere às características que norteiam o gênero em evidência, ora constituído pela notícia, torna-se de fundamental importância compreendermos o sentido retratado pelo termo – gênero textual.

Ao nos referirmos a este, devemos associá-lo às inúmeras situações sociocomunicativas que circundam pelo nosso cotidiano. Todas possuem uma finalidade em comum, ou seja, uma intencionalidade pretendida pelo discurso que as compõe. Tais finalidades se divergem, dependendo do objetivo proposto pelo emissor mediante o ato comunicativo.

Em se tratando da notícia, qual seria a intenção por ela pretendida? Certamente, a de nos informar sobre uma determinada ocorrência. Trata-se de um texto bastante recorrente nos meios de comunicação de uma forma geral, seja impressa em jornais ou revistas, divulgada pela Internet ou retratada pela televisão.

Em virtude de a notícia compor a categoria preconizada pelo ambiente jornalístico, caracteriza-se como uma narrativa técnica. Tal atribuição está condicionada principalmente à natureza linguística, pois diferente da linguagem literária, que, via de regra, revela traços de intensa subjetividade, a imparcialidade neste âmbito é a palavra de ordem.

Assim sendo, como a notícia pauta-se por relatar fatos condicionados ao interesse do público em geral, a linguagem necessariamente deverá ser clara, objetiva e precisa, isentando-se de quaisquer possibilidades que porventura tenderem a ocasionar múltiplas interpretações por parte do receptor.

De modo a aprimorar ainda mais os nossos conhecimentos quanto aos aspectos inerentes ao gênero em foco, enfatizaremos sobre seus elementos constituintes:

Manchete ou título principal – Geralmente apresenta-se grafado de forma bem evidente, com vistas a despertar a atenção do leitor.

Título auxiliar – Funciona como um complemento do principal, acrescentando-lhe algumas informações, de modo a torná-lo ainda mais atrativo.

Lide (do inglês lead) - Corresponde ao primeiro parágrafo, e normalmente sintetiza os traços peculiares condizentes ao fato, procurando se ater aos traços básicos relacionados às seguintes indagações: Quem? Onde? O que? Como? Quando? Por quê?

Corpo da notícia –
Relaciona-se à informação propriamente dita, procedendo à exposição de uma forma mais detalhada no que se refere aos acontecimentos mencionados.

Diante do que foi exposto, uma característica pertinente à linguagem jornalística é exatamente a veracidade em relação aos fatos divulgados, predominando o caráter objetivo preconizado pelo discurso.

domingo, 21 de novembro de 2010

ESCRITORES DA LIBERDADE

... Eu tenho um sonho que minhas quatro pequenas crianças vão um dia viver em uma nação onde elas não serão julgadas pela cor da pele, mas pelo conteúdo de seu caráter. Eu tenho um sonho hoje!...  Martin Luther King – fragmento do memorável discurso "I Have a Dream", de 28/08/1963.
 
Todos somos atores de nossa vida, mas nem sempre podemos ter sua autoria. O pensar [e o escrever] favorece a autoria da existência.  Dulce Critelli, 2006.
 
Há muitos filmes americanos sobre escola, mas não como "Escritores da Liberdade". (Freedom Writers, EUA, 2007). Porque é o único filme dessa categoria que incentiva os alunos a lerem literatura, ponto de partida para testar a vocação de cada um para escrever dede um diário sobre o cotidiano trágico de suas vidas até uma poesia hip hop ou um livro de ficção. O valor desse filme também está na ousadia da linguagem cinematográfica mostrando os problemas psico-sócio-culturais que atingem a escola contemporânea; também porque ele dá visibilidade à diversidade dos grupos, com seu rígido código de honra, cada um no seu território, o narcisismo da recusa e da intolerância para com “os outros”, o boicote às aulas, a prontidão para aumentar os índices de violência entre os jovens e transformar a escola no seu avesso, isto é, uma comunidade bem próxima da barbárie, o que de fato vai acontecer em 1992, em Los Angeles, EUA.
O filme é baseado na história real de Erin (interpretada por Hilary Swank), uma professora novata interessada em lecionar Língua Inglesa e Literatura para uma turma de adolescentes resistentes ao ensino convencional; alguns estão ali cumprindo pena judicial, e todos são reféns das gangues avessas ao convívio pacífico com os diferentes.
Como em outros filmes sobre turmas problemáticas, a professora Erin toma sua tarefa como um grande desafio: educar e civilizar aquela turma esquizofrênizada e estigmatizada como “os sem-futuro” pelos demais professores. Percebe que seu trabalho deve ir para além da sala de aula, por exemplo, visitando o museu do holocausto, possibilitando aos jovens saber os efeitos traumáticos da ideologia da “grande gangue” nazista, que provocou a 2ª. Guerra Mundial e o holocausto, e também reconhecer as semelhanças com suas “pequenas gangues” da escola.
O método da jovem professora consistiu em entregar para cada aluno um caderno para que escrevessem, diariamente, sobre aspectos de suas próprias vidas, desde conflitos internos até problemas familiares e sociais. Também, instigou-os a ler livros como "O Diário de Anne Frank" com o propósito de despertar alguma identificação e empatia, ainda que os personagens vivam em épocas diferentes; a partir de eventuais encontros imaginários cada aluno poderia desenvolver uma atitude especial de tolerância para com o “outro”. Na vida real, os diários foram reunidos em um livro publicado nos Estados Unidos, em 1999, e terminaram inspirando o diretor Richard LaGravenese para fazer esse filme.
Seu estilo pedagógico está para o ensaísmo apaixonado, romântico, humanista, mas sem perder de vista a racionalidade do propósito educativo. Primeiro, ela tenta “dar aula” segundo manda o modelo tradicional, que não funciona com alunos indiferentes ao propósito da escola eminentemente ensinante. Uma aluna questiona pra que serve aprender tal conteúdo abstrato considerado inútil para melhorar sua vida real; outro dirá que o fato de ela ser professora “branca” não é suficiente para ele respeitá-la. Cabe à professora ter argumentos consistentes que respondam essas questões imprescindíveis na escola contemporânea. No segundo momento, Erin faz o reconhecimento dos grupos de iguais (narcísicos), e, obviamente sente empatia com os excluídos. Terceiro, devolve aos alunos esse reconhecimento com um pensamento crítico, fazendo-os reconhecer, sentir e pensar sobre a realidade criada por eles próprios. Quarto, não os aceita na condição de vítimas reativas, e cobra-lhes responsabilidade por suas escolhas e seus atos de exclusão para com os diferentes. Ou seja, sua ação pedagógica é inovadora porque desperta a motivação dos alunos para expressar seus sentimentos, ler, pensar, escrever, e mudar a partir do reconhecimento como sujeito-de-sua-história.

O texto teatral


A representação – sua característica principal
O texto teatral assemelha-se ao narrativo quanto às características, uma vez que o mesmo se constitui de fatos, personagens e história (o enredo representado), que sempre ocorre em um determinado lugar, dispostos em uma sequência linear representada pela introdução (ou apresentação), complicação, clímax e desfecho.

A história em si é retratada pelos atores por meio do diálogo, no qual o objetivo maior pauta-se por promover uma efetiva interação com o público expectador, onde razão e emoção se fundem a todo momento, proporcionando prazer e entretenimento.

Pelo fato de o texto teatral ser representado e não contado, ele dispensa a presença do narrador, pois como anteriormente mencionado, os atores assumem um papel de destaque no trabalho realizado por meio de um discurso direto em consonância com outros recursos que tendem a valorizar ainda mais a modalidade em questão, como pausas, mímica, sonoplastia, gestos e outros elementos ligados à postura corporal.

A questão do tempo difere-se daquele constituído pelo narrativo, pois o tempo da ficção, ligado à duração do espetáculo, coincide com o tempo da representação.

No intuito de aplicarmos todos estes pressupostos teóricos à prática, analisaremos alguns fragmentos da peça intitulada O Pagador de Promessas, de Dias Gomes:

Bonitão
Não falei por mal. Eu também sou meio devoto. Até uma vez fiz promessa pra Santo Antônio...


Casamento?

Bonitão
Não, ela era casada.


E conseguiu a graça?

Bonitão
Consegui. O marido dela passou uma semana viajando.


E o senhor pagou a promessa?

Bonitão
Não, pra não comprometer o santo."

Rosa
E pra você não se sujar com a santa, eu vou ter que dormir no chão, "no hotel do padre". (Olha-o com raiva e vai deitar-se num dos degraus da escada da igreja).
E se tudo isso ainda fosse por alguma coisa que valesse a pena...


Você podia não ter vindo. Quando eu fiz a promessa, não falei em você, só na cruz.

Rosa
Agora você diz isso. Dissesse antes...


Não me lembrei. Você também não reclamou...

Rosa
Sou sua mulher. Tenho que ir pra onde você for...
{...} 


Por Vânia Duarte
Graduada em Letras
Equipe Brasil Escola
http://www.brasilescola.com/redacao/o-texto-teatral.htm

Anúncio Publicitário


Chamar a atenção do consumidor - Eis o objetivo do anunciante 
A todo instante nos deparamos com uma infinidade de propagandas, seja em outdoors, seja em panfletos espalhados pelas ruas ou através da mídia. Elas fazem parte dos chamados “gêneros textuais”, pois participam de uma situação sociocomunicativa entre as pessoas.
A finalidade deste tipo de texto é de persuadir, ou seja, o anunciante (emissor) tem o objetivo de convencer o telespectador (receptor) sobre a boa qualidade de um determinado produto, convencendo-o a adquirí-lo.
Isto nos remete à ideia daquele velho ditado popular, o qual diz que “a propaganda é a alma do negócio”, e se analisarmos, concluiremos que a afirmação é totalmente verídica, porque quanto mais criativo e objetivo for o anúncio, mais haverá a possibilidade de aceitação. Para isso, é importante saber o público-alvo, fator decisivo perante a elaboração das estratégias a serem aplicadas.

Quanto à estrutura do texto em questão, ele compõe-se da seguinte forma:

Título - Geralmente é bastante criativo e atraente, baseado em um jogo de palavras carregadas de linguagem conotativa, justamente com o intento de atrair o consumidor.
Imagens - As mais inusitadas possíveis, dispostas de forma a chamar a atenção de acordo com as características do produto anunciado.

Corpo do texto  - Nesta parte é desenvolvida a ideia sugerida no título, com frases curtas, claras e objetivas, adequando o vocabulário aos interlocutores destinados.

Identificação do produto ou marca  - funciona como uma “assinatura” do anunciante. Ocorre também de aparecer o Slogan junto à marca anunciada, para dar mais ênfase à comunicação. Certos slogans são de nosso conhecimento. Como por exemplo: “TIM - Viver sem Fronteiras”, RED BULL - Te dá Asas!

Por Vânia Duarte
Graduada em Letras
Equipe Brasil Escola
http://www.brasilescola.com/redacao/anuncio-publicitario.htm

O Ato de Descrever

Existem momentos e situações em que temos que transmitir uma imagem, um lugar, uma pessoa, uma obra artística, para isso utilizamos a linguagem; essa atitude é chamada de descrição.

Ao fazermos uma descrição podemos explorar a linguagem não verbal (fotos, pinturas, etc.) e a linguagem verbal (oral e escrita).
Quando redigimos um texto com essa finalidade compomos um texto descritivo. Através do texto descritivo apresentamos ao nosso interlocutor um ambiente, um objeto, um ser a partir de nosso ponto de vista, assim, ele estará impregnado de nossa postura pessoal.
A redação de um texto descritivo
Descrever é um processo no qual se empregam os sentidos para captar uma realidade e transportá-la para o texto.
A elaboração do texto requer domínio da modalidade escrita da língua e as finalidades a que o texto se propõe.
Elementos básicos de uma descrição:
- identificar os elementos;
- situar o elemento (lugar que ele ocupa no tempo e no espaço);
- qualificar o elemento dando-lhe características e apresentando um julgamento sobre ele.
A descrição pode ser apresentada sob duas formas:
- descrição objetiva: quando o objeto, ser, ambiente são apresentados como realmente são;
- descrição subjetiva: quando o objeto, ser, ambiente são transfigurados pela emoção de quem descreve.
Características gramaticais:
- verbos de ligação;
- frases e predicados nominais;
- verbos no presente e pretérito imperfeito do indicativo (predominantemente);
- adjetivos.
O texto descritivo, geralmente, é incorporado ao narrativo ou ao argumentativo.
Veja os exemplos a seguir:

"A bolacha-da-praia,
a estrela-do-mar e o
ouriço-do-mar são parentes.
A estrela-do-mar é carnívora. Com seus "pés", ela abre as conchas e se alimenta delas. Depois, ela permanece
até dez dias em jejum.
A bolacha e a estrela ficam semi-enterradas no fundo
do mar; o ouriço é achado
em rochas."
                                    (Folhinha de S. Paulo, 23/01/99)

                                         
Prima Julieta
                 Murilo Mendes


Prima Julieta, jovem viúva, aparecia de vez em quando na casa de meus pais ou na de minhas tias. O marido, que lhe deixara uma fortuna substancial, pertencia ao ramo rico da família Monteiro de Barros. Nós éramos do ramo pobre. Prima Julieta possuía uma casa no Rio e outra em Juiz de Fora. Morava em companhia de uma filha adotiva. E já fora três vezes à Europa.
Prima Julieta irradiava um fascínio singular. Era a feminilidade em pessoa. Quando a conheci, sendo ainda garoto e já sensibilíssimo ao charme feminino, teria ela uns trinta ou trinta e dois anos de idade.
Apenas pelo seu andar percebia-se que era uma deusa, diz Virgílio de outra mulher. Prima Julieta caminhava em ritmo lento, agitando a cabeça para trás, remando os belos braços brancos. A cabeleira loura incluía reflexos metálicos. Ancas poderosas. Os olhos de um verde azulado borboleteavam. A voz rouca e ácida, em dois planos; voz de pessoa da alta sociedade. Uma vez descobri admirado sua nuca, que naquele tempo chamavam de cangote, nome expressivo: pressupõe jugo e domínio. No caso somos nós, homens, a sofrer a canga. Descobri por intuição a beleza do cangote e do pescoço feminino, não querendo com isto dizer que subestimava outras regiões do universo.
 

                     MENDES, Murilo. A idade do serrote. Rio de Janeiro,
                          Sabiá, 1968. p. 88-9.

Por Marina Cabral
Especialista em Língua Portuguesa
Equipe Brasil Escola
http://www.brasilescola.com/redacao/ato-descrever.htm

Frases Siamesas

Você já começou a escrever e não parou mais e acabou transformando aquele período em um longo parágrafo?

Se sim, cuidado, neste espaço você pode ter feito uso das frases siamesas. Sim, é isso mesmo, são chamadas assim por analogia a “irmãos siameses”, aqueles que nascem unidos por uma determinada parte do corpo.

Assim, o mesmo acontece com as orações. Às vezes nos empolgamos em escrever e esquecemos de acentuar, colocar vírgulas, conectivos (e, mas, porém, então, entretanto, etc.) e pontos (final, de exclamação, de interrogação, dois pontos, e assim por diante).

Observe:  A jovem já estava ansiosa seria um ótimo dia de aula sua turma iria apresentar uma peça teatral para a escola inteira a fim de arrecadar fundos para o bazar cultural.

É muito comum ver períodos longos iguais a esse, apontado acima, bem como nos menores: Ele não concordava com a correção era necessário falar com o professor.

As ideias dos exemplos acima estão sendo exploradas como se fosse apenas uma, já que não há elemento de ligação entre as orações.

Vejamos como ficariam os períodos acima se fossem escritos com a pontuação correta:

A jovem já estava ansiosa, seria um ótimo dia de aula, pois sua turma iria apresentar uma peça teatral para a escola inteira, a fim de arrecadar fundos para o bazar cultural.

E

Ele não concordava com a correção, era necessário falar com o professor.

Como vimos, é muito importante ficar atento à pontuação e ao uso dos conectivos, pois podem mudar todo o sentido de um texto ou do que se quer falar.

Por Sabrina Vilarinho
Graduada em Letras
Equipe Brasil Escola
http://www.brasilescola.com/redacao/frases-siamesas.htm

“Armadilhas” que implicam na qualidade textual

“Armadilhas” que implicam na qualidade textual



Nesse “entrelaçar” podemos dizer que distintos elementos corroboram para que toda a tessitura, ao final, materialize-se de forma plausível, perfeita, à compreensão do interlocutor. Nesse ínterim, a competência linguística do emissor (conhecimento das regras que regem todo o sistema linguístico dominante) e o conhecimento de mundo do emissor funcionam como elementos de extrema relevância.
Contudo, na falta de tal competência, alguns “obstáculos” indubitavelmente tendem a se manifestar, interferindo, portanto, na estética textual como um todo. Dessa feita, temos que a falta da competência linguística implica tão somente na ausência de clareza da linguagem, ofuscando todo o brilho, força e magia contidos nela.
Nesse sentido, nós, enquanto enunciadores de um discurso, devemos estar atentos a esse fato, de forma a nos dedicar sempre a uma boa leitura, alargando novos horizontes, edificando nosso léxico e aprimorando a cada instante nossa busca pelo conhecimento. Dessa forma, algumas considerações se encontram demarcadas a seguir, com vista a enfatizar, sobretudo, os já mencionados “entraves”, os quais representam o que denominamos de desvios linguísticos. Assim, de forma a evitá-los, analisemos:
# Ambiguidade – Consiste na falta de clareza expressa pelo discurso, uma vez que a falta de ordenação do pensamento resulta na duplicidade de sentido expresso pela linguagem, materializando-se assim numa má interpretação por parte do receptor. São exemplos:
A mãe pediu para o filho dirigir seu carro.

Nesse caso não identificamos quem é realmente o proprietário do carro, se é a mãe ou o filho. Assim, reformulando a mensagem, obteríamos:
A mãe pediu que o filho dirigisse o carro dela.

# Barbarismo:
Caracteriza-se por empregar um vocábulo de forma inadequada, tendo em vista fatores relacionados à grafia, pronúncia, morfologia e semântica. Assim representados:
bandeija, em vez de bandeja

gratuíto, em vez de gratuito

cidadões, em vez de cidadãos

tráfico de veículos, em vez de tráfego.


# Cacofonia –
ocorrência manifestada pelo encontro ou repetição de fonemas os quais resultam num desagradável efeito sonoro.
Admiro a boca dela.

Vou-me já, pois anoiteceu.

# Colisão e hiato – representa um efeito sonoro desagradável produzido pela repetição de fonemas consonantais idênticos.
Cansamos de salientar sobre isso na semana passada.

# Eco –
consiste também num som desagradável, manifestado pela sequência de palavras constituídas pela mesma terminação.
Tivemos uma decepção em virtude de sua péssima atuação, revelada pela sua má preparação.

# Estrangeirismo –
consiste no emprego de palavras pertencentes a outras línguas. De acordo com a origem recebem a
denominação de galicismo, anglicismo, italianismo, germanismo, entre outros.

pedigree, em vez de raça

happy hour, em vez de final de tarde

démodé, em vez de fora de moda

site, em vez de sítio


# Plebeísmo –
  é o uso de gírias, chavões cristalizados pela convivência em sociedade. Materializados por determinadas expressões relacionadas a “tipo assim”, “ninguém merece”, “a nível de”, entre outras.

# Prolixidade –
representa um acúmulo de palavras desnecessárias, ou melhor, utilizando uma expressão coloquial bem conhecida, “enchendo linguiça sem nada dizer.”

# Pleonasmo vicioso –
materializa-se pelo uso de expressões desnecessárias, uma vez inferidas mediante a falta de conhecimento do interlocutor.
descer para baixo

subir para cima

entrar para dentro


# Solecismo –
representa um desvio em relação à sintaxe, infringindo, assim, as normas de regência, colocação e concordância.
Solecismo de regência – Assistimos o espetáculo, em vez de assistimos ao espetáculo.
Solecismo de concordância – Haviam muitos alunos na sala, em vez de havia, dada a impessoalidade do verbo.

Solecismo de colocação – Falarei-te aos ouvidos, em vez de falar-te-ei aos ouvidos.
Por Vânia Duarte
Graduada em Letras
Equipe Brasil Escola
http://www.brasilescola.com/redacao/defeitos-um-texto.htm

Os 10 erros mais cometidos em redação


Para se fazer uma boa redação alguns conhecimentos são necessários!
Há alguns equívocos muito comuns em redações e, por este motivo, estão no patamar dos mais cometidos. Mas isso ocorre apenas por falta de conhecimento, portanto, uma vez informados, os estudantes não voltam a cometê-los.

Vejamos, então, os 10 erros mais cometidos em redação: (não estão por ordem de importância)

1. “Fazem dez anos que não vemos tantas mudanças”. O verbo “fazer” no sentido temporal, de tempo decorrido ou de fenômenos atmosféricos é impessoal, ou seja, fica no singular: Faz dez anos... Faz muito frio...

2. “Houveram muitas passeatas nesta semana em prol da igualdade racial.” O verbo haver acompanha o mesmo raciocínio do verbo “fazer”, citado acima. No sentido de existir ou na ideia de tempo decorrido, o verbo haver é impessoal: Houve muitas passeatas... Há tempos não o vejo... Havia algumas cadeiras disponíveis.

3. “Para mim escolher, preciso de um tempo.” Na dúvida verifique quem é o sujeito do verbo. No caso, o verbo “escolher” não tem sujeito, pois “mim” não pode ser! O certo seria o pronome “eu”: para eu escolher. A expressão “para mim” só funciona quando é objeto direto: Traga essa folha para mim. Dessa forma, sempre diga e escreva: Para eu fazer, para eu levar, para eu falar, pois o verbo precisa de um sujeito!

4.  “Esse assunto fica entre eu e você!” Quando a preposição existe, neste caso “entre”, usa-se o pronome oblíquo. O correto é: entre mim e você ou entre mim e ti. Portanto, use pronome oblíquo tônico (mim, ti, si, ele, ela, nós, vós, si, eles, elas) após preposição: falava sobre mim, faça por nós, entre mim e você não há problemas, falavam entre si.

5. “Há muito tempo atrás, comprei uma bicicleta.” O verbo “há” tem sentido de tempo passado, logo não há necessidade de adicionar “atrás”. Ou você escolhe um ou outro: Há muito tempo... Tempos atrás... Há dez anos... Dez anos atrás.

6. “Então, pegou ele pela gola.” Quando for necessário que um pronome seja objeto direto (pegou algo: ele), nunca coloque pronome pessoal, opte pelo caso oblíquo átono (me, te, se, o, a, lhe, nos, vos, se, os, as, lhes): Pegou-o, avisou-o, apresentei-a, levou-nos, ama-me, leva-nos.

7. Aonde você estava? “Aonde” indica ideia de movimento, enquanto “onde” refere-se somente a lugar. Portanto: Onde você estava? E Aonde nós vamos agora?

8. “A situação vinha de encontro ao que ele desejava.” Se é uma situação que a pessoa desejava, será: ao encontro de, expressão que designa favorecimento, estar de acordo. Já a locução “de encontro a” tem sentido de oposição, de choque: Ele foi de encontro ao poste.

9.  “Esse ano vamos fazer diferente.” Se é o ano vigente, então use o pronome “este”, uma vez que indica proximidade: Esta sala de aula, esta semana está sendo ótima, este dia vai ser abençoado, este ano está sendo o melhor de todos, esta noite veremos estrelas.

10. O verbo “adequar” é defectivo, isso quer dizer que não é conjugado de todas as formas. Assim: Isso não se adéqua... Ele não se adéqua... Eu não me adéquo... são orações equivocadas. Outros verbos também passam por este tipo de problema, como: abolir, banir, colorir, demolir, feder, latir. O verbo adequar é correto e usado com mais frequência nos modos infinitivo (adequar) e particípio (adequado).

Por Sabrina Vilarinho
Graduada em Letras
Equipe Brasil Escola

Artigo de opinião

É comum encontrar circulando no rádio, na TV, nas revistas, nos jornais, temas polêmicos que exigem uma posição por parte dos ouvintes, espectadores e leitores, por isso, o autor geralmente apresenta seu ponto de vista sobre o tema em questão através do artigo de opinião.

É importante estar preparado para produzir esse tipo de texto, pois em algum momento poderão surgir oportunidades ou necessidades de expor ideias pessoais através da escrita.

Nos gêneros argumentativos, o autor geralmente tem a intenção de convencer seus interlocutores e, para isso, precisa apresentar bons argumentos, que consistem em verdades e opiniões.

O artigo de opinião é fundamentado em impressões pessoais do autor do texto e, por isso, são fáceis de contestar.

Para produzir um bom artigo de opinião é aconselhável seguir algumas orientações. Observe:

a) Após a leitura de vários pontos de vista, anote num papel os argumentos que mais lhe agradam, eles podem ser úteis para fundamentar o ponto de vista que você irá desenvolver.

b) Ao compor seu texto, leve em consideração o interlocutor: quem irá ler a sua produção. A linguagem deve ser adequada ao gênero e ao perfil do público leitor.

c) Escolha os argumentos, entre os que anotou, que podem fundamentar a ideia principal do texto de modo mais consciente, e desenvolva-os.

d) Pense num enunciado capaz de expressar a ideia principal que pretende defender.

e) Pense na melhor forma possível de concluir seu texto: retome o que foi exposto, ou confirme a ideia principal, ou faça uma citação de algum escritor ou alguém importante na área relativa ao tema debatido.

f) Crie um título que desperte o interesse e a curiosidade do leitor.

g) Formate seu texto em colunas e coloque entre elas uma chamada (um importante e pequeno trecho do seu texto).

h) Após o término do texto, releia e observe se nele você se posiciona claramente sobre o tema; se a ideia está fundamentada em argumentos fortes e se estão bem desenvolvidos; se a linguagem está adequada ao gênero; se o texto apresenta título e se é convidativo e, por fim, observe se o texto como um todo é persuasivo.

Reescreva-o, se necessário.
Por Marina Cabral
Especialista em Língua Portuguesa e Literatura
Equipe Brasil Escola
http://www.brasilescola.com/redacao/artigo-opiniao.htm

O Internetês e a Ortografia

O internetês é a linguagem utilizada no meio virtual, mais precisamente nas salas de bate papo como orkut, messenger, blogs e outros. Como foi se tornando uma prática na vida de todos, as pessoas que utilizam esses serviços passaram a abreviar as palavras de forma que essas tornaram-se uma configuração padronizada.
É uma prática comum entre os adolescentes que, acostumados com a rapidez do mundo dos instantâneos e dos descartáveis, utilizam como meio de agilizar e dinamizar as conversas. Como se não bastasse, criaram os bichinhos e palavras que piscam o tempo todo, chamados gifs, para os bate-papos tornarem-se mais atrativos.

Figuras virtuais que caracterizam expressões
Porém, para a linguagem escrita, essa não é uma prática vantajosa. Além dos jovens terem pouco contato com o mundo dos livros, justamente por estarem mais ligados às novidades virtuais, vão perdendo as formas padrões da ortografia, que podem ficar comprometidas pela falta de contato com a grafia correta.
As escolas devem trabalhar muito quanto a esse aspecto, pois não podemos permitir que a escrita correta das línguas sejam destruídas diante das banalidades virtuais.
As famílias também devem colocar limites para os jovens, estimulando os mesmos a outras práticas de diversão, bem como estimulando-os à leitura de livros e revistas, adequados à idade dos mesmos.
Quando a criança ou o adolescente convivem com exemplos dos pais, dentro de casa, eles não resistem à leitura, e sabemos que este é um fator que enriquece o vocabulário, oportuniza o aprendizado da gramática bem como da ortografia, além dos prazeres proporcionados pela leitura.
A existência de algumas expressões fica registrada da seguinte forma: :D é uma risada, B) são óculos escuros, :( significa triste, :* é o beijo, :x caracteriza boca fechada, dentre várias outras.
Algumas palavras foram abreviadas de forma incorreta, comprometendo a ortografia como vc – você, blz – beleza, naum – não, cmg – comigo, neh – não é ou né, kd – cadê, etc.

Flw – falou, blza – beleza, kdê - cadê
Dessa forma tão esdrúxula de se escrever, costumamos nos deparar com textos escritos totalmente errados, que chocam as pessoas que preservam a forma padrão da escrita. A frase a seguir, encontrada na internet, é um exemplo disso: “naum eskreva feitu retardadu na net pq tem jenti lendu o q vc escrevi”.
Essa forma de escrita não facilita nada, pois torna-se muito mais difícil para quem já possui conhecimentos ortográficos de sua língua.
É bom lembrar que também não têm nada a ver com os acrônimos, siglas de palavras que foram universalmente estabelecidas, especialmente úteis nas telecomunicações, uma vez que permitem condensar várias palavras em poucas letras, como nos telegramas. Foram criados para serem utilizados mundialmente, de forma que não comprometessem a ortografia das línguas, o que não acontece com as abreviaturas do internetês.
Assim, é necessário buscar formas de fazer os jovens não levarem esses aprendizados para a escrita formal, pois esses ficarão prejudicados tanto na fase escolar como num futuro próximo de profissionalismo.

Por Jussara de Barros
Graduada em Pedagogia
Equipe Brasil Escola
http://www.brasilescola.com/educacao/o-internetes-ortografia.htm

Aprendendo com as Notícias


Para o vestibular, é fundamental se manter atualizado
Com o ingresso no ensino médio, é de fundamental importância que os alunos tenham contato com os fatos e acontecimentos que ocorrem tanto no Brasil, como no mundo. Estes passam a fazer parte do cotidiano escolar, são cobrados nas salas de aula, através de discussões e trabalhos em grupo, e aparecem nas provas.
Realmente este contato é considerável, pois traz para o estudante as informações da atualidade, colocando-o a par dos problemas político-sociais mais marcantes do mundo.
Manter contato com jornais e revistas de circulação nacional é um instrumento importante para quem se prepara para o vestibular, pois esses conhecimentos são cobrados nos exames, tendo os alunos que fazerem citações nas redações, bem como análises de gráficos sobre tais fatos, além de ser necessário fazer críticas e reflexões acerca dos mesmos.
Esses conhecimentos são exigidos em razão das escolas considerarem que os alunos estão na condição de formadores de opinião, que não vivem de forma alienada aos problemas sociais, mas que são participativos enquanto cidadãos.
Os assuntos são muito diversificados, como esportes, lazer, cultura, política, religião, guerras, biodiversidade, geologia, degradação ambiental, dentre vários outros interessantes para tornar as provas menos estressantes, mais voltadas para o mundo do que para somente conteúdos escolares.
Além disso, alunos que têm contato com questões sociais, que leem acerca das mesmas, têm maior capacidade de argumentar bem quando apresenta uma escrita, seu vocabulário torna-se mais rico, o que o diferencia dos outros.
Portanto, deixar a preguiça de lado e começar a se inteirar das coisas que acontecem no mundo é uma excelente forma de se preparar para o vestibular, ampliar seus conhecimentos e garantir sucesso na graduação.
Peça para seus pais fazerem uma assinatura de revista de assuntos político-sociais de circulação nacional, ou de um jornal de qualidade. E caso não tenham condições financeiras para isso, procure a biblioteca de sua escola, que certamente terá esse material à disposição.

Por Jussara de Barros
Graduada em Pedagogia
Equipe Brasil Escola
http://www.brasilescola.com/educacao/aprendendo-com-as-noticias.htm

O jornal e a notícia



As notícias de jornais precisam ser atrativas!
Todo jornal impresso ou televisionado é recheado de notícias, as quais fazem parte do nosso cotidiano e são importantes para nos mantermos atualizados!

Mas o que vem a ser uma notícia? O que ela precisa ter? Como é feita?

Você tem curiosidade em saber: então, vamos lá!

Notícia  é um substantivo feminino e tem significado de informação, conhecimento, notificação. No âmbito da imprensa quer dizer o resumo de um acontecimento ou de um assunto!

Portanto, um resumo não pode conter muitas linhas! A notícia deve comunicar o fato e não traçar argumentos sobre ele.

O noticiário na TV ou a notícia no jornal deve responder algumas questões, como: 1. qual é o acontecimento; 2. Onde ele ocorreu: em que cidade, estado, país?; 3. Quando aconteceu: que dia, mês, ano?; 4. Por que aconteceu: o que está por trás? e 5. Quais foram as possíveis consequências?.

A notícia é composta de duas partes: a manchete e o texto.

Manchete: resume a notícia em poucas linhas (2 a 3) e tem o objetivo de atrair o leitor para ler o texto.

Texto: os fatos narrados do acontecimento em questão.

Deste modo, quem escreve notícias deve ser um bom escritor, pois as palavras devem ter combinações tais que atraiam leitores e telespectadores!

Você sabe o que é um redator? Quando um jornal televisivo acaba, pode prestar atenção, os nomes dos redatores são apresentados!

No jornal falado, a presença de redatores, locutores e sonoplastas é muito importante!

Os redatores são responsáveis por observar os fatos do dia, selecioná-los e redigir as notícias sobre eles!
Os locutores são os apresentadores de tais notícias e os sonoplastas os que dirigem o fundo musical, como por exemplo: a música de abertura do jornal.

Por Sabrina Vilarinho
Graduada em Letras
Equipe Brasil Escola
http://www.brasilescola.com/redacao/o-jornal-noticia.htm

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Sete valores capitais

A revista ISTO É apresentou resultados de uma pesquisa que mostram os principais valores que norteiam a juventude de hoje, conforme quadro abaixo.

Sete valores capitais

Individualismo: distante de utopias e projetos coletivos,o jovem estabelece inúmeros compromissos, todos tênues.

Hedonismo: o lema é “ficar numa boa”. A busca de autosatisfação e de prazer é frenética.

Conservadorismo: cresce no sistema e não promove rupturas, mas consome a transgressão dos outros como espetáculo.

Vida videoclipe: com múltiplas atividades e preferências,às vezes simultâneas, dedica pouco tempo a cada uma.

Diluição da hierarquia: faz questão de manifestar suas opiniões,descartando formalidades diante da autoridade estabelecida.

Culto ao corpo: valoriza o corpo como suporte da hiperatividade e veículo de sedução, utilizando largamente práticas esportivas.

Capitalismo: deseja o poder econômico e tem prazer em consumir tudo o que o mundo oferece, sem culpa.
Ainda segundo a revista, os valores que prevalecem são o individualismo, o conservadorismo e o
capitalismo.

TROIANO, Jaime. Pesquisa Brasilian Teenager Go Global. Consultoria de Marca.

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Poema tirado de uma notícia de jornal

João Gostoso era carregador de feira livre e morava no morro da Babilônia num barracão sem número
Uma noite ele chegou no bar Vinte de Novembro
Bebeu
Cantou
Dançou
Depois se atirou na lagoa Rodrigo de Freitas e morreu afogado.

Manuel Bandeira

Século XX: Um Século de Artes, Letras, Ideias e Realizações

O século XX inaugurou uma nova era de desenvolvimento científico e tecnológico, e uma nova fase política com a implantação de sistemas democráticos em muitos países do globo. Mas, apesar da introdução deste inovador sistema político, para além da adopção de programas educativos e de reformas sociais, este século viu nascer e crescer o imperialismo, regimes fascistas e a corrida ao armamento.
No início do século XX, a Europa vivia num clima de paz, que proporcionava um ambiente confiante e racionalista, contudo esta conjuntura mudou radicalmente com o ressurgimento de crises económicas e depressões. Apesar do triunfo da democracia e da revolução intelectual e artística operada neste século, no período compreendido entre as duas guerras mundiais desenvolveram-se formas autoritárias de poder, como por exemplo o nazismo germânico. A Europa entrou então num clima de pessimismo generalizado.
Os pilares da civilização ocidental, assentes no humanismo e nos princípios cristãos, foram profundamente abalados por estes regimes autoritários, pela hostilidade dos estados socialistas contra o poder da burguesia e pelo movimento de descristianização emergente entre as elites e a pequena e média burguesia.
Assim a mentalidade positivista do início do século deu lugar a um clima de incerteza e de instabilidade, provocado pelo estalar da Primeira Guerra Mundial, que trouxe a ruptura dos valores tradicionais e transformou o racionalismo em pessimismo.
O desenvolvimento acelerado das cidades quebrou o equilíbrio mantido entre os meios urbanos e os meios rurais e alterou inclusivamente as formas de sociabilidade dentro das cidades. A vida urbana, com a introdução da sociedade de massas, passou a privilegiar o individualismo, perdendo-se práticas de solidariedade ancestrais.
A sociedade começava a mudar. As classes médias ganhavam poder numa sociedade massificada, onde as mulheres lutavam por direitos cívicos.
As novas descobertas da ciência vieram abalar velhas certezas e abriram caminho à ciência moderna. Einstein, uma das figuras mais proeminentes do século, pôs em causa as teorias positivistas com a sua teoria da relatividade, arrastando consigo teorias ligadas ao indeterminismo. Outra das descobertas científicas importantes foi a Psicanálise, um campo da psicologia explorado por Sigmund Freud (1856-1939) e pelos seus discípulos Jung e Adler.
Na primeira metade do século XX a cultura ocidental atravessou uma fase muito inovadora em campos tão distintos como o da música, das artes plásticas, da arquitectura e da literatura. Esta mudança teve a ver com as inovações formais e uma grande diversidade de propostas vanguardistas que tiveram eco na arte e na literatura. Algumas destas experiências foram: o Cubismo, um estilo nascido em França no início do século XX, ligado à figura de Pablo Picasso, um dos artistas plásticos mais simbólicos e influentes de todo o século, que foi, por sua vez, influenciado por Braque e Cézanne; o termo fauvismo provém da palavra "Fauves", que significa feras e expressa um movimento artístico surgido no Salão de Paris de 1905 desenvolvido por Matisse e Vlaminck, entre outros; o Abstraccionismo de Kandinsky, Mondrian e Vieira da Silva; o Futurismo do italiano Marinetti; o Expressionismo desenvolvido pela escola "Die Brucke" (A Ponte); o Surrealismo, uma forma artística associada a Salvador Dalí, Miró e Marx Ernst; e o Dadaísmo, de Picabia, entre outros.
Portugal também acompanhou as correntes artísticas em voga no início do século. Na pintura destacaram-se, entre outros: Santa-Rita Pintor, um artista influenciado pela escola futurista, Amadeu de Sousa-Cardoso, de Amarante, e Almada Negreiros, Viera da Silva e António Pedro. Na escultura, as figuras que se mais destacaram foram Diogo de Macedo, Francisco Franco, Leopoldo de Almeida, Barata Feyo e Álvaro de Brée. Na arquitectura distinguiu-se o nome de Raul Lino, que estudou a Casa Portuguesa; mas também Carlos Ramos, Cotinelli Telmo, Pardal Monteiro, Keil do Amaral, entre outros. Na literatura Ferreira de Castro, José Régio, Miguel Torga e o poeta dos heterónimos e da "Mensagem" Fernando Pessoa.
Na transição do século XIX para o século XX a literatura era dominada pela corrente realista, que se prolongou no século XX com o realismo social, designado neo-realismo. A literatura reflectia as preocupações e o pessimismo de alguns autores como Aldous Huxley, André Gide, Marcel Proust, James Joyce e Ernest Hemingway.
Depois da Segunda Guerra Mundial, Jean-Paul Sartre e o seu Existencialismo influenciou autores como Albert Camus, o autor de obras como o "Mito de Sísifo" e o "Estrangeiro". Uma nova geração de escritores passou então a interessar-se pela psicologia e a vida interior, como é o caso por exemplo de Samuel Beckett. Na Alemanha, a literatura exprimia os problemas sociais e no teatro a corrente do pós-guerra era representada por Bertolt Brecht.
Na arquitectura do período logo após a Primeira Guerra Mundial surgem soluções inovadoras para os problemas urbanísticos, que exigem a reestruturação das cidades, segundo critérios mais funcionalistas. A arquitectura passa a adaptar os edifícios às suas finalidades funcionais (Funcionalismo). Na Europa, Le Corbusier (1887-1965) funda a escola do Racionalismo Formal em França; Walter Gropius (1883-1969), na Alemanha, seguindo uma arquitectura racionalista metodológica, funda a Escola da Bauhaus.
Nos Estados Unidos da América o arquitecto Frank Lloyd Wright (1869-1959) traz a corrente do funcionalismo orgânico, sintetizada, nomeadamente, na Casa da Cascata e na Robbie House, duas das suas obras mais emblemáticas.
Ao mesmo tempo estava em pleno desenvolvimento o desenho industrial, ou design, que aliava a arte à tecnologia, permitindo a produção em série de artefactos funcionais que respondem a critérios estéticos e práticos.
Entre as duas guerras a escola de Paris (1920-1949) continuou a predominar no panorama artístico, mas foi perdendo o seu domínio para outros centros. Esta escola foi a última conjugação de artistas e movimentos em torno da capital francesa. A partir de então a arte é caracterizada pela dispersão geográfica e pela perda da influência europeia face a países como os Estados Unidos.
As novas correntes da pintura são muito variadas: vão desde a Op Art (Optical Art) à Action Painting, passando pelo Grupo Cobra (1948-1951), pela Pop Art de Andy Warhol, ligada à cultura de massas, pela Minimal Art, a arte conceptual, a arte Pobre e a Land Art.
A escultura contemporânea provém de uma velha tradição académica que, mais do que a pintura, sente a procura do respeito dos clássicos e as suas considerações sobre a representação corporal e sobre a temática alegórica. Os escultores não académicos do século XX pretendem dar ênfase aos materiais, recorrendo à simplificação da figura humana estilizada, ou criando representações inventadas, produzindo uma arte próxima da arquitectura. Alguns dos expoentes máximos da escultura contemporânea são Alberto Giacometti, Constantin Brancusi e Henry Moore.
A fotografia, a inovadora arte de captar imagens, nasceu dos avanços tecnológicos desenvolvidos a partir de finais do século XIX. A par da fotografia, uma forma de fixar imagens paradas, surgiu o cinema, uma arte que, associada à música, produz imagens em movimento. Estas duas inovações vieram alterar por completo o mundo e o sentir da arte contemporânea.
A fotografia apareceu em França no início do século XIX pelas mãos de Niépce, um burguês culto e abastado. Os primeiros registos são imagens fugazes, mas entre estas primeiras experiências e as imagens mais duradouras não demorou muito tempo. A fotografia triunfou, de imediato, em Paris, e rapidamente chegou aos Estados Unidos, que a desenvolveram enormemente. A fotografia artística foi impulsionada pelo fotógrafo Félix T. Nadar, que imortalizou Sarah Bernhardt nos começos da segunda metade do século XIX (1864-1865).
Em meados do século XX, o ensino tornou-se obrigatório e gratuito em muitos países, pois representava uma forma de incutir valores e uma nova disciplina, através da escola, numa altura em que os meios de comunicação social (mass media) eram veículos de uma cultura de massas, transmissores de modelos de vida e de ideologias. A televisão, a rádio, a imprensa escrita e o cinema atingiam todo o tipo de pessoas, transmitindo a todas as classes sociais modelos comportamentais estandardizados. A difusão da imprensa teve início no final do século XIX, contudo, com a alfabetização e a melhoria das condições de vida, o seu alcance e o seu poder aumentaram consideravelmente.
A invenção da televisão tomou parte do impacto da rádio, mas não a sua importância. Pelo menos nos primeiros tempos. O cinema desenvolveu-se a partir da década de 20, e desde logo se afirmou como um poderoso meio de comunicação e de difusão de modelos sociais e culturais.
Esta nova cultura de massas também se abriu a outras formas criativas, como a banda desenhada, criadora de figuras mundialmente conhecidas e apreciadas como Astérix e Tintim, e a literatura policial, um género literário adaptado com frequência à televisão e ao cinema.


Século XX: Um Século de Artes, Letras, Ideias e Realizações. In Infopédia [Em linha]. Porto: Porto Editora, 2003-2010. [Consult. 2010-11-17].
Disponível na www: <URL: http://www.infopedia.pt/$seculo-xx-um-seculo-de-artes-letras-ideias-e>.

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Você Sabia? Palavras também morrem

Quase um quarto dos verbos da língua portuguesa do século 13 simplesmente desapareceu dos nossos dicionários atuais

por Álvaro Silva
Todo mundo riu quando a filha de um famoso cantor sertanejo, ela também cantora, disse recentemente que, enquanto lia o romance As Pupilas do Senhor Reitor, de Júlio Dinis, tinha de ir a cada cinco frases ao dicionário. Mas, sem entrar em discussões mais profundas, temos de admitir: é quase impossível entender todas as palavras dos textos mais antigos escritos em português. A impressão que temos é que os verbos medievais simplesmente sumiram da nossa língua.
Quer um teste? Lá pelos idos de 1214, o nobre D. Lourenço Fernandes da Cunha pôs no papel (ou, melhor, num papiro irregular de 15 por 30 centímetros) os vexames que havia sofrido. O documento, conhecido como Notícia de Torto, é um dos cinco mais antigos textos escritos em português. Em 55 linhas, D. Lourenço reclamava da violência dos filhos de Gonçalo Ramires. Num trecho, o nobre diz o seguinte: “[...] fur(u) a Ueraci amazaruli os om(éé)s”*. Alguém entende?
E olha que isso é português, como o nosso. O período de transição entre o latim e a nova língua já havia passado – foi entre os séculos 9 e 11. Acontece que 23% dos velhos termos desapareceram mesmo do português. Uma comparação entre o Dicionário Houaiss, com 228 mil verbetes, e o Dicionário de Verbos do Português Medieval (DVPM), projeto da Universidade de Lisboa que cataloga as palavras usadas nos primeiros textos da língua, mostra ainda que outros 3% dos verbos são classificados como arcaicos, antigos ou obsoletos. E mais 1% são tidos como de uso raro.
Tirar palavras em desuso do dicionário é comum em diversos idiomas. A Espanha, por exemplo, passou por uma reforma ortográfica severa. Em 1999, diversos verbetes foram excluídos da língua espanhola.

Essas, sim, deveriam sumir

Ego, meliante e poetisa me causam calafrios
Banir palavras – a idéia é tentadora, mas não é saudável. A língua é um ser vivo, e não uma ave empalhada. Move-se, muda, e o que é ruim hoje pode ser excelente amanhã. Mas, não posso negar, o português está infestado de palavras que me causam calafrios. Talvez não seja, contudo, o caso de eliminá-las, até porque o mal de uma palavra nem sempre está no que ela é, mas no que fazemos dela.Que os psicanalistas falem em “ego” na tentativa de delimitar o espaço entre um conceito e uma palavra de uso comum, “eu”, vá lá. Mas que nós falemos em “ego” é coisa bem diferente. Ou será para esconder a vaidade?
Por que dizer “meliante”, como fazem os policiais, e não simplesmente “marginal”? Por que falar no “elemento” e não no “sujeito”? Ainda há quem diga “poetisa”, quando Cecília Meireles é, simplesmente, uma grande poeta.
Poetisa poderia ser, no máximo, a mulher de um poeta – como é a embaixatriz, que se distingue da profissional, embaixadora. Palavras, além do mais, viciam, como o cigarro ou o álcool. Na televisão, em vez de responder à pergunta do repórter com um simples “sim”, quase sempre se prefere o deplorável “com certeza”. Na apresentação da reportagem, os âncoras dos telejornais sugerem que devemos “conferi-la” – como se fôssemos verificar a quantidade de ovos de uma cesta. Seria importante eliminar, ainda, redundâncias como “pequenos detalhes”, incorporadas à linguagem comum.
É verdade que, como um ser vivo, a língua está exposta a transformações. O que está errado hoje, por força do uso, logo estará certo. Sim, ela é o terreno da liberdade. Mas isso não exclui a elegância, nem a sabedoria.

Sem palavras

Estes termos usados nos idos de 1200 sumiram ou foram modificados
Assunar: juntar, pôr(-se) junto, unir(-se), reunir(-se)
Amazar: matar, tirar a vida (de alguém) intencionalmente, assassinar
Chuiva: Chuva, fenômeno que resulta da condensação do vapor de água contido na atmosfera em pequenas gotas que, quando atingem peso suficiente, se precipitam sobre o solo muito próximas umas das outras
Encartado: condenado, que ou o que se condenou
Geolho: joelho, articulação da coxa com a perna
Mesurado: moderado, que se moderou, comedido
Osmar: calcular, determinar o valor
Suso: acima, em direção a lugar ou parte superior, ascensionalmente
Trevudar: pagar imposto

Até Camões escrevia errado

Camões, em seu clássico Os Lusíadas, escreveu versos como: “doenças, frechas e trovões ardentes” ou “nas ilhas Maldivas nasce a pranta”. Era assim mesmo, com “r” no lugar de “l”. Tanto flecha como planta são palavras com origem em termos com “l”: flecha vem do francês flèche e planta vem do latim planta, nem mudou.
É, Luís Vaz de Camões e seus contemporâneos sofriam do mesmo “probrema” que ataca muita gente humilde hoje. A confusão se explica: “r” e “l” são consoantes da mesma família, as consoantes líquidas. Trocar uma pela outra é fácil. E, para nós, o encontro consonantal com “r” é mais natural.
O lingüista Marcos Bagno, autor de Preconceito Lingüístico, diz que ao longo do tempo nossa fala deveria ter acabado com os encontros consonantais com “l”. Mas um fato histórico impediu isso. No século 16, um bando de gramáticos – todos com complexo de Cebolinha – tentou reaproximar a língua do velho latim. A flecha que já estava virando frecha voltou a ser flecha. E a frecha de Camões entrou para a lista dos termos que sumiram. Outras palavras, porém, resistiram. Como praga, apesar de ter origem no latim plaga. E grude, que vem do latim gluten.
Por isso, Marcos Bagno defende o respeito a todas as pessoas que hoje falam errado – tão errado quanto Camões falava. E sobre o tão comum problema do “probrema”, acredite: se o próprio Camões nunca errou especificamente essa palavra foi por mera falta de oportunidade. Na verdade, ele nunca a escreveu. Problema só se incorporou ao português em 1683. O escritor morreu 103 anos antes.

Vou estar defendendo o uso do gerúndio

por John Robert Schmitz*

"A gerência vai estar transferindo 3 mil reais de sua conta." Quem falar ou escrever uma frase assim atualmente corre o risco de ser ridicularizado. Culpa do gerúndio (e de sua junção com os verbos ir e estar), tachado de "assassino" do idioma por alguns gramáticos e formadores de opinião da mídia. Esse gerúndio é vítima da irritação dos usuários com seus maiores divulgadores, os operadores de telemarketing, que nos obrigam a sofrer para ter acesso telefônico a serviços de empresas. Mas será que o equívoco nesse processo é justamente o uso do gerúndio? Seria o gerúndio um erro gramatical da mesma ordem de falhas como "eu dispor" em vez de "se eu dispuser" ou "interviu" em vez de "interveio". E afinal de contas, o que é que o gerúndio está "assassinando"?
Para desprestigiá-lo, um observador afirmou que o gerúndio é uma firula desnecessária, um drible a mais na comunicação. Dizem, por exemplo, que "estar cuidando" tem o mesmo sentido que "cuidar". Mas todos nós temos o direito de usar ou não usar certa palavra, expressão ou locução. Qualquer idioma serve às intenções comunicativas dos seus falantes. Um determinado usuário pode dizer "vamos estar cuidando do seu caso" quando tem interesse em expressar continuidade, cordialidade ou polidez ao passo que outro falante pode desejar ir direto ao ponto, recorrendo à forma simples: "Vamos cuidar do seu caso" - que caracteriza um tratamento mais descomprometido ou "seco".
Outros falantes alegam que "vai estar transferindo" significa que repetidas transferências de dinheiro serão feitas pela agência bancária. É uma interpretação pessoal, que nada tem a ver com as regras da gramática. Além disso, qualquer cliente sabe que os bancos cuidam bem de suas contas e nunca vão esbanjar dinheiro fazendo transferências à toa. Ainda mais levando-se em conta a voracidade da CPMF.
A campanha contra o gerúndio, creio, é fruto de preconceito lingüistico sem embasamento numa pesquisa de campo entre os diferentes tipos de usuários de português em diferentes contextos. Pergunto por que os desafetos do gerúndio condenam a frase "Ele vai estar chegando na parte da tarde" quando os mesmos aceitam tranqüilamente a presença dos verbos modais: "Ele pode estar chegando, ele deve estar chegando, ele tem de estar chegando na parte da tarde"?
Subjacente à polêmica em torno da campanha de "cassação" do gerúndio, existe uma vontade geral de colocar o idioma numa redoma e não reconhecer que ele muda ao longo do tempo. O português da época de José de Alencar é diferente do português contemporâneo. Todas as línguas vivas inovam graças à criatividade dos seus usuários. Alguns críticos, com o intuito de proteger e manter o idioma estável, implicam com novos verbos, como "disponibilizar", novos substantivos como "descatracalização", novos adjetivos como "imexível" e "descuecado" ou até com estrangeirismos (sem equivalentes em português) como "dumping" e "ombudsman".
Para tentar banir o gerúndio do idioma, alguns observadores questionam as credenciais do mesmo e sugerem que ir+estar+verbo no gerúndio é resultado da invasão sintática do inglês. Essa crença não procede porque, em primeiro lugar, os falantes em questão nem sempre dominam o inglês o suficiente para o idioma estrangeiro interferir no português. Em segundo lugar, o português brasileiro apresenta uma variedade de gerúndios - e o inglês não. Alguns exemplos: "Olha, está querendo chover!", "Não estou podendo tirar férias agora". Cabe observar também que os idiomas francês e alemão não têm gerúndios. É a presença no idioma de uma sentença como: "O plantonista está atendendo amanhã na parte da tarde" que serve como "ponte" para a realização de: "O plantonista vai estar atendendo amanhã na parte da tarde". Na verdade, ao lado de formações como o infinitivo conjugado ("para comprarmos"), a mesóclise ("dir-se-á") e o futuro do subjuntivo ("se ele der"), a presença de gerúndios contribui para diferenciar o português de todas as outras línguas. É como Zeca Pagodinho e caipirinha; só o Brasil tem.
*Nasceu nos Estados Unidos e tem 69 anos - 35 deles vividos no Brasil. É integrante, e ex-chefe, do Departamento de lingüística Aplicada da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).

Revista Superinteressante - Edição 211 - marco/2005

O futuro do português

Preocupado com a reforma ortográfica? Nossa língua está sempre em obras. Entenda as forças que moldam o português do Brasil e saiba como a gente pode estar falando logo mais

por Texto Rita Loiola

Eisvaissai logo pa eischega cedo.
A língua que a gente fala pode ser assim no futuro. Não entendeu? De acordo com a gramática atual, seria: “Eles vão sair logo para chegar cedo”. Lendo em voz alta, nem é tão distante do que se ouve por aí, pois a fala do presente traz pistas da gramática do futuro. Mesmo assim, brasileiros de hoje dificilmente se entenderiam com os do ano 2500 – ou com portugueses de 1500.
Para qualquer língua, 5 séculos é muito tempo: só para citar um exemplo, usar o verbo “ter” com sentido de “existir”, fundamental em qualquer conversa, é coisa de 100 anos pra cá. Pense na dificuldade que temos com a Carta do Descobrimento, de Pero Vaz de Caminha. Para decifrar “da marinhagem e das singraduras do caminho”, é preciso um dicionário, como no estudo de um novo idioma. Essas mudanças ocorrem porque línguas são metamorfoses ambulantes, moldadas pelas necessidades dos usuários – não pelas regras gramaticais.
É como se o português do Brasil fosse uma sopa, eternamente no fogo, que recebe ingredientes e temperos e ao longo do tempo vai tendo o seu sabor alterado. Palavras nascem, crescem ou se encurtam, se combinam, mudam de sentido e de pronúncia e, um dia, morrem. Que gosto isso vai ter a gente não garante, mas, nas próximas páginas, damos a receita do prato. Bom apetite.
Neologismo delivery
O português brasileiro, diferentemente do lusitano, é extremamente aberto a novas experiências. Importar e adaptar palavras é uma tendência antiga e continua sendo força poderosa para definir Vo futuro da nossa língua. “Vocês são muito abertos aos estrangeirismos e incorporam com extrema naturalidade vários termos”, diz o português Augusto Soares da Silva, lingüista da Universidade Católica Portuguesa. “Há uma tendência inata para isso, diferente da do português de Portugal, que transforma o ‘mouse’ em ‘rato’.” Augusto fez uma pesquisa comparando jornais de Portugal e do Brasil dos últimos 50 anos e percebeu que ficamos com diversos termos do inglês tais como eram na origem. Foi assim que nasceram o “xis-tudo”(de cheese, “queijo”), os serviços “delivery”, a “customização” de roupas e a “equalização” do som. “Se um dia alguém resolver expurgar as palavras de fora, 70% do que temos vai embora”, prevê o filólogo Mário Viaro, da USP.
Os presentes gringos costumavam ser mais requisitados pelo universo da cultura (show, blockbuster, best seller), da gastronomia (suflê, purê, bufê) e da moda (aliás, “fashion”), mas hoje são principalmente associados ao vocabulário corporativo (“pessoal do marketing”, “atingir o target”, “briefing”) e informal (“let’s go”, “whatever”, “kisses”, “yessss!”).
Dá para perceber que boa parte do vocabulário importado vem do inglês, não por acaso a língua da principal potência econômica, militar e cultural do planeta. Sempre foi assim: o que temos de hospitaleiros temos de puxa-sacos, copiando o idioma de quem está por cima.
Até a 2ª Guerra Mundial, o monopólio da sofisticação pertencia ao francês, de chauffeur, garçon, lingerie, cabaret, ballet, filet e mulher mignon. Com a ascensão do poder americano, o inglês foi tomando espaço, até virar a 2ª língua de todo mundo, daquele engravatado com MBA ao roqueiro underground.
E a história da língua ensina que roubaremos sem piedade palavras de outros países que se tornarem importantes. Como o mandarim dos chineses é uma língua exótica demais para nossos ouvidos, a previsão é de que surjam regalos do espanhol, já que o Brasil aumentou o intercâmbio com os seus vizinhos e tudo indica que os hispânicos devem ser a maioria dos EUA até o final do século. Um exemplo a favor da hipótese: blecaute (blackout) já virou apagão (apagón).
Mas não são só os produtos importados que se valorizam. A história recente ensina que, para não se perderem na globalização, alguns grupos passam a valorizar suas diferenças, e uma delas, claro, é a língua. O R caipira, que chegou a ter sua extinção anunciada no início do século 20, continua firme e forte, assim como o “tu” gaúcho e o chiado carioca não cederam a nenhuma padronização.
A professora de teoria lingüística Marilza de Oliveira, da USP, cita como precedentes os antigos dialetos de Milão e Turim, na Itália, que hoje são aprendidos pelos italianos. “Poderemos seguir pelo mesmo caminho, dando prestígio aos dialetos regionais do Brasil.”
Força do hábito
Independentemente de qualquer reforma oficial, o português brasileiro está sempre sendo modificado no dia-a-dia por seus falantes. O problema é que o idioma evolui mais rápido na língua do que no papel. Os gramáticos e os dicionários, que prezam pelo bom uso da língua, demoram mais para consagrar mudanças.
Se seguirmos a gramática da Academia Brasileira de Conversas, não a de Letras, o capítulo sobre pronomes pessoais precisa ser reescrito. O “você” chega com tudo, aproveitando a conjugação do “ele” e substituindo o “tu” como 2ª pessoa do singular. O “nós” sai e deixa em seu lugar o “a gente”, e o “vós”, que há anos não sai de casa, é substituído por “vocês”. E sabe-se que o sujeito oculto anda cada vez mais exposto; aliás, a gente sabe.
Outros pronomes não ficam atrás. Nunca soube quando usar “este”? Tudo bem: no futuro, ele só deverá ser encontrado no dicionário. Como o inglês e o francês, que têm apenas demonstrativos de perto e longe, ficaremos com “esse” para o que está ao lado e “aquele” para o que está afastado.
Alguns tempos verbais também foram vítimas da seleção oral. Há alguns anos, o pretérito mais-que-perfeito (“eu amara”) virou comida de traça. Agora pode ser a vez de o futuro do presente (“eu amarei”) fazer parte do passado. Mas a língua é um daqueles sistemas em que nada se perde, tudo se transforma. O “eu amara” virou “eu tinha amado”, e o “eu amarei” se transformou em “eu vou amar”.
Nesses exemplos está um dos hobbies favoritos do nosso português: brasileiro que é brasileiro adora uma perífrase, ou seja, transformar uma palavra em duas. Muitos dos nossos verbos passaram por esse fenômeno. O “amarei” um dia já foi “amare habeo”, vindo de “amabo”.
Por que a perífrase acontece em alguns tempos verbais e não em outros ainda não está plenamente explicado, mas alguns estudos lingüísticos dão pistas. “O presente e alguns passados são mais resistentes às mudanças porque seriam ‘tempos mesmo’, ou seja, referências mais concretas para marcar datas”, explica Marilza de Oliveira, da USP. Assim, “eu amei”, “eu amava” e “eu amo” são imutáveis por serem mais precisos – em time que está ganhando, não se mexe. Nos outros, a gente tende a criar, encurtando, aumentando e mudando os verbos.
Alguns pesquisadores até arriscam que parte dos brasileiros parou dizer que “poderia entregar o livro nesse endereço” para garantir que “vai estar podendo”. A hipótese é que o “gerundismo” (o abuso de gerúndio, ou seja, verbos terminados em “ando”, “endo”, “indo”, “ondo”) é uma estrutura natural do português brasileiro. “Ela seria utilizada não só por manuais mal traduzidos mas por todos, em situações com algum grau de formalidade”, explica Marta Scherre, lingüista da Universidade de Brasília (UnB). E, para desespero dos puristas, essa estrutura pode resistir ao tempo, virar regra e talvez, um dia, ser falada com despreocupação por nossos tataranetos.
Esquerda, volver
A proliferação do “gerundismo” no Brasil espelha uma das forças mais determinantes do português do futuro: a flexão à esquerda. A língua das próximas gerações poderá não ter mais aqueles pedacinhos grudados no fim da palavra para indicar plural ou singular, masculino ou feminino, tempo e modo. Forças desconhecidas estão pouco a pouco atraindo esses fragmentos para a esquerda da frase.
Exemplo: se eu digo “verei”, você sabe que eu ainda não vi por causa do “ei”. Mas em “vou ver”, cada vez mais comum, a mesma informação é dada pelo “vou”, à esquerda da expressão.
“Estamos colocando a pessoa e o número no pronome, e o tempo e o modo no elemento anterior ao verbo”, explica Ataliba de Castilho, lingüista aposentado da Universidade de Campinas (Unicamp). “Essa é uma das grandes inovações já registradas em pesquisas e que tem tudo para se cristalizar na língua.” E sugere que os pronomes pessoais “ele” e “eles” podem ser reduzidos e colados aos verbos. “Ele” vira “ei”, “eles”, “eis”. Com o “sair”, no futuro, “eisvaisair”, como no exemplo que abre o texto.
Alguns paulistas já seguem a tendência quando comem o plural junto com aqueles “dois pastel”. Uma das explicações para esse falar, também típico de outras partes (Porto Alegre tem “dois time grande”), é que a forma gramaticalmente correta traz uma certa redundância: se o S já está ali no “dois”, pra que repetir? “Em vez de S no fim, colocaremos o S no começo, antes do radical da palavra, quase como um prefixo”, prevê Ataliba.
A onda esquerdista também está na hora de colocar pronomes. “Dê-me um cigarro!” cheira a mofo – aliás, Oswald de Andrade já reclamava em 1925, no poema Pronominais, que “o bom negro e o bom branco / Da Nação Brasileira / Dizem todos os dias / Deixa disso camarada / Me dá um cigarro”. Ataliba compara: “A língua é como uma bola que nunca mais parou de rolar. Alguém desviou o chute para a esquerda e, pronto, a influência aparece em vários lugares”.
Falando desse jeito, parece que o português caminha para algo bem mais simples, um punhado de monossílabos com poucas conjugações e flexões. Mas não é bem assim. Quem fala gosta de ser notado pelo que diz, não vai abdicar de caprichar nas palavras. E aí entra em cena a criatividade e a expressividade que, juntas, contribuem para manter o idioma complexo. “A única regra das línguas é a busca da expressividade, e nunca da simplificação”, afirma Ataliba. “Dizer que os idiomas mudam para ficarem rasos é esquecer que, no fundo, são mudanças extremamente complexas.”
Certo ou errado?
Em 46 a.C., o estadista Marco Túlio Cícero fez um discurso no Senado romano sobre a arte da oratória. A certa altura, inflamado, lamentou que o povão não sabia mais o que era latim; falavam tudo errado, era uma calamidade.
Na verdade, poucos romanos se expressavam como Cícero gostaria – assim como poucas discussões em botecos brasileiros passariam intactas pelo corretor de texto. Da mesma maneira que o latim vulgar repaginou o latim clássico e se misturou a dialetos para dar origem a outras línguas, é o “português vulgar” que puxa as mudanças. Quando ninguém está prestando atenção em como fala, atento ao que está dizendo e não como está dizendo, é que as mudanças ocorrem.
“As pesquisas sociolingüísticas, feitas desde a década de 1960, têm mostrado que as formas inovadoras surgem no seio da classe média baixa”, explica o sociolingüista Marcos Bagno, autor de A Norma Oculta – Língua e Poder na Sociedade Brasileira. “Aos poucos, essas formas inovadoras vão ganhando prestígio e sendo adotadas pelas classes média e alta urbanas, até atingirem textos escritos.” Foi o que aconteceu, por exemplo, com o particípio de alguns verbos. A forma antiga – e certa – um dia já foi conhoçudo, e não conhecido; perdudo, e não perdido. Mas, de tanto o povo falar, o “ido” pegou.
Mesmo o mais culto do brasileiros de vez em quando solta um “deixe ele entrar” e não “deixe-o entrar”, ou “o livro que eu falei” e não “de que falei” (ver quadro O Presente do Português). Assim, meio sem querer, frases como essas podem vir a ser a regra da gramática do futuro. “É divertido ver a campanha dos gramáticos de antigamente contra as formas que eram consideradas erradas na época deles e que hoje são usadas inclusive em textos literários”, diz Bagno. “No futuro, nossos bisnetos vão se admirar com os ‘erros’ criticados em 2008.”
O “erro” é entre aspas mesmo: para os lingüistas, só há erro quando as pessoas não se entendem, não porque uma regra diz que aquilo é errado.
Para evitar o descompasso entre língua falada e escrita, órgãos como o Instituto Houaiss, que faz o conhecido dicionário, vão aderindo aos poucos às inovações, colocando novos significados e usos em seus verbetes. Daqui a algumas centenas de anos, talvez ele também registre a frase “Eles vão sair logo para chegar cedo!” como a forma arcaica de “Eisvaissai logo pa eischega cedo!”
Vem de fora
Seja por influência de índios, escravos e imigrantes, seja por mera globalização, nossa língua sempre acolheu bem palavras de fora. O inglês continuará sendo um grande fornecedor, mas a integração com a América do Sul pode render novos verbetes no dicionário.
Vem de dentro
Também tem tempero regional na mistura. O R caipira, o “tu” gaúcho e outras marcas lingüísticas (“jeitos de falar”) típicas devem permanecer firmes e fortes, por representarem um diferencial de sua comunidade de falantes em relação ao resto.
Vai renovando
Na língua, há um eterno movimento de aposentar palavras e estruturas que caíram em desuso e colocar em evidência novas expressões e formatos. Palavras nascem e morrem: se hoje ninguém solta um “cujo” na mesa de jantar, é sinal de que a saúde dele inspira cuidados.
Simplificar, jamais
Existe a idéia de que o português está ficando cada vez mais pobre. Não é bem assim: se expressar bem dá status. Mesmo que conjugações e flexões vão escasseando, os falantes da língua vão sempre encontrar formas complexas de se expressar e chamar atenção para si.
“A gente” humilde
Pesquisas mostram que a classe média baixa é a grande inovadora do nosso português. Aos poucos, expressões como “a gente” e “chama ela” vão ganhando prestígio social e devem virar norma. Esse movimento só tende a crescer com a expansão da classe C.
Leis que pegam
Basicamente, os brasileiros não escrevem como falam (MSN à parte) porque existem livros e professores dizendo que isso é errado. A gramática ensinada no colégio, apesar de estar gradualmente mais aberta a mudanças, inibe as transformações lingüísticas.

O presente do português

Direto da boca dos brasileiros, exemplos de como a língua muda no dia-a-dia
Na prática, os pronomes pessoais clássicos (eu, tu , eles, nós, vós, , eles) já foroam substituídos (eu, você, a gente, vocês, eles)
Quero ver quem paga para nós ficarmos assim.
Quero ver quem paga para a gente ficar assim.
O econômico futuro do presente ("eu amarei") vem dando lugar ao futuro perifrástico, simplesmente com o verbo "ir" emtre o pronome e o verbo principal ("eu vou amar").
De tudo ao meu amor serei atento.
De tudo ao meu amor vou ser atento.
O pronome depois do verbo, comum em portugal, já era considerado arcaico pelos modernistas em 1922. Sobrevive com aprelhos.
Dize-me com quem andas e te direi quem és.
Me diga com quem você anda e vou dizer quem você é.
"Este" e seus derivados estão sendo engolidos pela família do "esse", usado na maioria das vezes.
Este coqueiro que dá coco.
Esse coqueiro que da coco.
Apesar dos protestos, o futuro do pretérito ("eu poderia") está dando lugar ao "gerundismo" ("vou estar podendo")
Eu sei que tu não fugirias mais de mim.
Eu sei que você não iria estar fugindo de mim.
O chamado sujeito indeterminado ou oculto, que não aparece na frase, está dando as caras, sempre acompanhado de "a gente" e "você".
Não queremos só comida.
A gente não quer só comida.
Aos poucos, o S de substantivos e adjetivos vai sendo economizado, deixando a missão de determinar o plural para "s" e "os".
Eu enfrenteva os batalhões, os alemães e seus canhões.
Eu enfrentava os batalhão, os alemão e seus canhão.

Para saber mais

A Norma Oculta - Língua e Poder na Sociedade Brasileira
Marcos Bagno, Parábola Editorial, 2003.

Por Trás das Palavras - Manual de Etimologia do Português
Mário Eduardo Viaro, Globo, 2004.

Gramática do Brasileiro
Celso Ferrarezi Júnior e Iara Maria Teles, Globo, 2008.

Revista Superinteressante-Edição 259 - dezembro/2008